quarta-feira, 4 de abril de 2007

Novos poemas: "Do real imaginado"


Panfleto gotejante

O que explodia,
há bilhões de anos?

Galáxias em clara
de fogo
e ninguém para encerrar um universo
e inaugurar outro;
ninguém para sonhar o poema da água,
odisséia carbonária e sílabas libélulas.

Hoje, dois mil e três, 2003,
sonho que um dia, ao continuarmos a água
com improváveis matemáquinas,
uma haverá para o passado
na qual voltaremos
através das eras,
olho de poeta
contemplando o tempo
até gerar-se de novo
o primeiro incêndio;

sonho, pois o poema da água
encerramos.

Lamento da mãe do campo atrás

Minha mãe, casa de clara,
vira chuva como as frutas
e voltará se eu estiver aqui.
Esperarei contigo, filho de minha lua,
longe de teu pai, sol do meu parto.
Aqui, chegarei.
A água fez o melhor por mim,
tenho medo de não retornar;
medo de ficar só,
longe do rio de meu filho;
aqui, chegarei.
Rebento do meu solstício,
fala das borboletas
que sofri para teu vale;
fala para não esqueceres.
O universo é uma gota dos olhos
e velarei toda a noite:
dorme, o rio está parado.
Se for preciso, cantarei.
E onde nunca ninguém saberá,

morrerei.