segunda-feira, 27 de setembro de 2010

LIVRO "DO REAL IMAGINADO"


Pão-de-açúcar I

nesta memória-dia,
acordar é reaver todo o tempo:

o útero-pressão
do universo-vulcão

o pipoco do fogo atomizado

o nascimento do espaço
noutro espaço inexorável

a lava do sal
em órbita

o sol do eu
sobre o outro
eu


revê:

novelo de pedra,
a borboleta,
estrela de erosão



Pão-de-açúcar II

Dou teu nome ao primeiro segundo
deste despertar em Botafogo

relâmpago infinito
que tudo restitui
em ti

aconchegada a mim

e sinto-me brevíssimo deus
que, de um lance,
povoasse o abismo de galáxias
e olhasse um pouco a terra.



Quadra do Amor

O Tempo ralou-me a pele
FFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFna bacia da lua míngua.
- Suaviza-te, Tempo! - perdoei-o em minha língua.
Ele, então, que jamais vira a finitude,
chorou até a lua tornar
FFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFà juventude.



Bar

Mil anos ao passado,
o bosque entornava nas maçãs
as uvas de teus olhos assustados.
A Lua corava tua nudez
como a água à primeira mulher.

Hoje, barriguinha lisa,
embebedas teus aromas e esfrega-os
na paixão, única verdade do corpo:
paixões por minuto, no bar
como na tv.

Mil anos -
profusamente natural
apurou-se teu corpo
comum
em seu verão mais raro.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

SENTENÇA MOTIVA


mar

rolos de papiro
Fpáginas de tempo

FFFo livro do sal

tema lúnio
Fsobre o início

FFFFmar:

solista do infinito

FFo autonauta
FFFo espelho só

FFFFIlamento mono

FFFFFFaviso silvo
FFFFFFFFFFFFFFFsopro síbil de búzio

súbita

FFFFFserpente de dobras verdes
FFFFFFFFFFFFFFFdobres do pêndulo chumbo

FFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFFmar:

fffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffsentença motiva

FFFFFFFFFFFFFbrusco
FFFFFFFFFFcontínuo
FFFFFFIrupto

mudo

FFFsucedo
FFFFFreflito
FFFFFFFcalo teu silêncio fluxo

FFFFFFFFFFFFFFF...



O conto da criação

A pena,
pavio de sol,
raia a palavra terra
até a pedra;
onde a gema flora.

A chama apura o topázio,
uma estrela nasce
sobre o mar.

Quando a cor toca na água,
a palavra começa a respirar.

Meu só momento:
o facho da letra
fecunda as fendas de sal
e sou o fundo onde a vida aflora.

Mera sensação: o que resta
é sempre o poema,
sobra do mar -

ainda que, como agora,
a gota de uma vogal
mine sozinha na página.


Amor com edifício

Pelo vidro do prédio, sou da altura
do tempo, fora da linha do mar,
geométrico no orbe, sem tonturas,
anti-séptico e incoercível pensar,

livro livre entre os astros, lira pura,
istmo do eterno a seu espaço, par

sol plano ao lívio cisne nas junturas

constelações em clara soltas no ar

No entanto, à tarde quase a suspirar
recidiva radiação se amoldura.
O amor! Eis a questão: como aturar?

E quem sutura a fenda que fulgura
Intra-sereias no fundo de ternura?
Mas já seu tempo azul volta a quebrar.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

LIVRO "DO REAL IMAGINADO"



enseada em botafogo

uma pausa, pauta de andar ao mar
prodigiosamente reconhecer a água quebrada
compor o ruído a evocação do mar
homero e a memória da jangada
ir pela margem da íris desvelar
sílabas na aurora
tão simples é andar

andar para se preparar pro mar
caminhar não para saber mas para sentir
escutar a cabeça branca dos casarões
e as jovens flores aos borbotões
falar ao decote de uma rua estreita
e saltar da derradeira fachada
infinito do mar instantâneo
tão simples é se encontrar

não tarda amanhecer
na areia até os pombos são marinheiros desembarcados
aqui os pensamentos viram sentidos
e as sensações se materializam ao lado
se penso pirata ele surge colorido e faz amizade com a gaivota
se penso helena ela logo se encanta por algum azul iridescido
pétala de beleza bramida
mito com sereia
tão simples é navegar

a canção
dessa pauta de sensação
foi preciso despertar
porque os carros são movidos a sol
e daqui a pouco a cor prefere se calar


Ao Pedro Beccari



Dualistas

há fúrias que seqüelam a vontade
mesmo do mar; ignaro, sanho e estrujo,
arrebento-me ao meu tempesto jade
e contra mim descanso a tempestade
e parto em mim o polvo-subterfujo;
sou, sem saber, o mar e o marujo;
sempre em turvas fraturas, a verdade,
e tanto mais valente, inda mais fujo
e tanto mais covarde, inda mais rujo,
minha vítima própria em dualdade;

sonhei-me um mar com foz: em caramujo
: afloro a fundo a íntima metade



- maremoto -

olho do trans
tornado
mândubla-moenda

MMM MTUBARÃO

O que nunca dorme
- marsibério
MMMMMMMJsimério -
chama de sal incessante
acorrentada
à busca sem rosto

O que nunca pára
(reatorcontínuomar
correntes)
músculos da água
obstinada
até fender a fronteira

MMMJMMMe

MMM- maremorto -

arrebentar a busca nas geleiras

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

LIVRO "DO REAL IMAGINADO"


Matrix

Ser e Não Ser,
a máscara ao espelho
de um labirinto noutro.

Prestes a virar imagem,
a palavra uma última vez
dá-se ao poeta:
terá a própria
ir’realidade.



A realidade é um polvo de mentiras
debatendo o oceano da suspeita.
Mais triste do que o custo da receita
é ser falso o xarope, em que deliras.
Sem saber já abraçamos assassinos,
quanta vez sobraçamos vis enganos;
o real racharia como os sinos
se revelasse o lançador de arcanos.
No embaraçado mar do sentimento
quem dera ir de libreto em libreto,
porém o amor, solvido num soneto,
se extingue enquanto raia o fragmento.
No real corroído de ilusão,
falsa é a fantasia, a imaginação.




Não existe o presente.
Apenas,
na imaginação de adiamentos,
arcas, ânsias,
pendões pêndulos.
O futuro é um espelho em bólide
e reflete a fuga que nos esmaga.

Estou, ausente.

Sou só as palavras-vínculo
entre a fonte - sua constante -
e a dimensão do invento.