quarta-feira, 25 de março de 2009

LIVRO "BOM DIA - 61 NÃO-CRÔNICAS"


13 - Matinê

Ambos têm treze anos.

Danilo via Marisa de longe, no colégio, discreta; logo passou a desejar que não fosse comprometida. Hoje, pela primeira vez, engatam um papo descontraído. E eis que aparece um adolescente de óculos fundo-de-garrafa, e já chega beijando a gata.

Danilo despenca do céu, e só aí percebe como Marisa o consumiu nos últimos dias.

Imaginava-a na manhã, no passado, na montanha (onde a escondia), e até no futuro, com três filhos. Como todo apaixonado, Danilo não tinha a menor proteção, e agora aprende da pior forma.

Volta a pé para casa, em fogo. Controlando a vontade de chutar os postes. Anoitece, e ele sente os olhos brilharem de susto.

Tenta ver televisão, um documentário sobre a água; a própria vida, o melhor remédio; pura e boa para tudo, até para Marisa com outro.

Meia-hora depois, Danilo começa a beber água. Tão indefeso, cercado, surpreendido, acuado, sem saída, sem idéia - bebe litros e litros, como se a água, milagrosa, de alguma forma chegasse à dor que ele não sabe onde nem como.

Logo urina sem parar; o xixi vai clareando; as lágrimas finalmente chegam.

Estafado, Danilo prega os olhos, e sonha mexendo-se. Doze horas depois, acorda com vagar - e percebe que urinou na cama toda. Mas se sente bem.

No chuveiro, está mesmo outro, como se tivesse controlado uma gripe.


Pensa em ir ao cinema; desiste, cauteloso: o amor causa febre, e das mais brabas.

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