segunda-feira, 5 de julho de 2010

LIVRO "DO REAL IMAGINADO"


Tudo o que sobrevive foge, verso
contraverso da natureza havida
em clara, que mina ao reverso
para, morte em lua, repontar-se à vida.

Se sobrevive, foge a sol inverso
num pêndulo de messe inconsentida;
pêndulo de si mesmo, nem o universo
paralisou em si sua saída.

Se sobrevivo, fujo, fendo o real
e a vertigem tange em timbreastral:
chamas graxas roxas no eixo do dia.

O universo chega - expande-se, explode
gerando estrelas sobre o vácuo em ode.
Só forjo em jorro, trânsfuga poesia.



Panfleto gotejante

O que explodia,
há bilhões de anos?

Galáxias em clara
de fogo
e ninguém para encerrar um universo
e inaugurar outro;
ninguém para sonhar o poema da água,
odisséia carbonária e sílabas libélulas.

Hoje, dois mil e três, 2003,
sonho que um dia, ao continuarmos a água
com improváveis matemáquinas,
uma haverá para o passado
na qual voltaremos
através das eras,
olho de poeta
contemplando o tempo
até gerar-se de novo
o primeiro incêndio;

sonho, pois o poema da água
encerramos.




Concebi no rio o poema
e escrevi-o com as pontas das mãos -
nascimento para a água.
Agora,
nessa beira de mar
no Pará
que não é de areia
mas de barro,
surge uma espécie nova
de líquen:
e contemplo na concha dos dedos
minha palavra ainda sem nome.

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