quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

LIVRO "BOM DIA - 61 NÃO-CRÔNICAS"


9 - Schumacher e Ayrton (o gênio e o herói)

Quando o assunto são heróis da Fórmula 1, evocam-se sempre o argentino Juan Manoel Fangio, campeão cinco vezes, e Ayrton Senna, três vezes. Não se adora Nelson Piquet, também tri, ou se acendem velas para Proust, o grande rival de Ayrton. Daqui a duas décadas, se reverenciará Schumacher, o de sete títulos, e ele conseguirá na História o único triunfo que não conseguiu na carreira: ser um herói.


Na época de Fangio (anos cinqüenta do século passado), o capacete tinha até pano dentro; os macacões e proteções do carro nem se comparam aos equipamentos de hoje. A qualquer momento, um piloto podia partir o pescoço. Cada título de Fangio revestia-se de heroísmo e paixão; o espectador (nasci muitos anos depois) desfrutava da intensidade dos romances de aventura.


Mônaco, 1984. Chovia pra caramba e a pista lisa nivelou os carros; Ayrton Senna, ainda com uma modesta Toleman, ultrapassou então um atrás do outro, e quando só via Proust à frente (cada vez mais perto) encerraram a prova; o mundo celebrou com adrenalina e memória (quanto mais adrenalina, mais inesquecível) a perfeição apaixonada (risco de vida) que aquele brasileiro devolvia às pistas.

Na última vitória no Brasil (Interlagos, 1993), Ayrton perdeu duas marchas do carro; manteve a ponta por mais de quinze voltas saltando, no braço, da terceira para a quinta e daí para a sétima. Após a bandeirada, quase desmaiou. Outro momento de glória quase sobre-humana.

Schumacher (bateu todos os principais recordes: poles, número de vitórias, títulos...) é literalmente o gênio da Fórmula-1; matemático como um cientista que dissecasse (ainda que com o próprio corpo) seu objeto: guiar mais rápido que os demais. Schumacher era mais frio que Romário, pois este foi também um esteta; o alemão aproximava-se do outro como um predador que devorasse o espaço sem notar: chegava simplesmente, e preparava o bote - só precisava de um - e raras vezes não foi mortal. O piloto que ora se aposenta teve mais do que todos esse absolutismo, esse pragmatismo de vencer; é de fato o maior campeão, é o mestre, é o maior gênio; quis a História que não se defrontasse com Ayrton por algumas temporadas - a inteligência-inteligência X inteligência-apaixonada; e o heroísmo venceu para sempre – pergunte a qualquer brasileiro -, de forma exemplar, com a morte do herói, Senna, segundo clássicas tragédias gregas.

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi, tão bonitinho o seu blog. Acho até que vou virar freguesa! Besocas! DD

Carla disse...

É, sempre, prazeroso ler um texto além dos comuns!!

Beijos;

Carla Vianna

edson coelho disse...

carla, ó sanidade do tresloucamento, não podias mesmo querer textos comuns, né? qualquer dia, vou te caçar pelos planaltos da madruga e te alvejar com as palavras etílicas que tua amizade merece. valeu.