segunda-feira, 5 de maio de 2014

Para as mulheres de sangue quente

Canção da ninfomaníaca

Cigarras avisam teu corpo
para a tempestade.
Não sabes conduzir: jorras.
Música para conter o sangue,
este solo de palavras
boca a boca,
para a arritmia em pelo,
brasa contra brasa:
solo para incandescer
sem sufocar.

Esta é mesmo a minha arte:
música conforme à dança,
no crescendo da tua garganta,
música para suportares a vazão
da tua ebulição,
para o desejo caber no corpo,
vulcão aos goles da própria lava:
foder os teus excessos
(o atrito gera contradanças
de pimentas machucadas),
consumir o que passar dos teus limites,
vigiar o ponto de angústia,
evitar que a água te atropele,
que vire aflição,
ansiedade-chateação,
impedi-la que descompasse sobre mim,
exasperando os fluidos,
dança de timing, essa minha,
represar, liberar, dosar, induzir, conduzir,
e teu corpo cante até rachar
sem uma poça, um nódulo de agonia.

E, então, essa especialidade: o silêncio.
Oitocentos compassos de silêncio.


Canção da ninfomaníaca (2)

No instante vicioso

- a ânsia,
o risco do teu desejo
agastar o tempo -

estalar a palavra.


Canção da ninfomaníaca (III)

O desejo queima
ainda uma vez
- ao atravessar os olhos -
e para de gritar.

Tua paz, de pele.

Meu amor, de imensidão.