quarta-feira, 22 de maio de 2013

Galeria: Sarolta Ban


Poema inédito


Perdas

Do Big Bang, o corpus
de uma brisa;
eu, sopro
de aniquilamento.
A origem, matriz
da perda,
engole e engendra o vazio,
minha completude;
buracos negros se aplacam
na sede da minha órbita.

Hoje, insubstâncias -
tempo anucleado
em desejos por minuto -
a brisa entrete-se
antes de virar sopro,
antes do impulso.
A anelos sem destruição,
frustrações sem fogo;
a perdas desmeduladas,
olvido sem incrustações;
amemória.

A eternidade
acaba aqui.

sábado, 11 de maio de 2013

Um sexopoema




Terra em Vênus

Clitóris, cordilheira
inchada pela chuva;
cona, cânion
onde o vento brinca
com tufos de fogo;
poluções de Krakatoa.
A tempestade açoita,
acoita a neve
em gemedouros de pinho;
lava étnica restolha
o meridiano temperado
do verão pistilo.
Astros se desconstelam
num maelstrom celeste,
sacados pelo grelo da Terra;
a cordilheira badala
em grandes lábios ardósia
e os polos se enforquilham
sob as coxas da lua-muco;
primavera cadente, lascas de planetas -
esporro titânico de magma elemental.
A manga sente a dor do parto;
Vênus tem o malino em Vesúvio;
uma palavra se resina
no corte do galho umbilical.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Dois poemas inéditos




A espera

O espaço eterno em ondas sobre o tempo infinito
em ondas sobre o espaço eterno,
contrações concêntricas, binôminos
da ferrugem em dilatação;
lentidão transformadora e devoradora,
expansão paralítica, imobilidade eletrolítica;
o olho gordo de tudo, o vácuo de tudo,
a cegueira da luz acuada no universo;
moléculas insolúveis, soluções corrosivas,
eu unha e carne o amor carne e unha;
dízima da fênix periódica dízima da fênix
a espera com a sua fome com a sua espera

realimentada.


A paixão desmedida

A varanda - um bilhão de galáxias,
essa manhã - um bilhão de anos;
o infinito e a eternidade
- opressão –
só se contêm
num átimo, num átomo
(a luz tu, pólen
do universo,
transcorre até mim):
instante.