segunda-feira, 28 de setembro de 2009

LIVRO "BOM DIA - 61 NÃO-CRÔNICAS"


39 - Auto-retrato a pé

É preciso conquistar a linguagem, cortejar, se aproximar, se abismar, se arrematar na paixão, e é preciso aceitar quando a linguagem começa a repetir o ponto, quando precisa ser contestada, instada, revigorada, des’construída, desatada, amada. Tropeço, alheado, pela Benjamim Constant e a linguagem me vira a cara.

Essa metrópole, Belém, vale mais pelas sensações que pela adrenalina. Não nego que sou assim.

Mas os picos de adrenalina da cidade – a “loucura”, a arte, as águas – nada devem à turma dos anos 70. Sou bastante assim.

A luz que se vê ao fim do túnel de mangueiras é Nossa Senhora de Nazaré.

Da infância em Altamira, Transamazônica, recordo a ardente sensação da religião, o sofrimento, a abnegação (tal se prolongou até a adolescência) e, ainda hoje, com deslumbramento, me toca a poesia da bíblia, a transcendência por meio do arrebatamento: palavras de Deus, sentimentos do homem.

Passo, ao mesmo tempo, em frente à Basílica de Nazaré, à direita, e ao Cine Ópera, de filmes pornôs, à esquerda.

(Vi em vídeo-cassete, em Castanhal, na casa de uns japoneses dados à eletrônica, isso quando no Brasil nem se vendia vídeo, o clássico erótico “O Diabo na Carne de Miss Jones”; até hoje, algumas das imagens são as mais gélidas e gratas que o cinema me concedeu.)

De frente das árvores ancestrais do Museu Goeldi, vislumbro o mercado de São Braz, a uns dois quilômetros, e na largura da Magalhães Barata ainda cabe a nota de Manuel Bandeira: em Belém, as avenidas são estradas. Não sou do interior, sou do mato, o simples entrar na mata já me fez chorar, é um drama na hora de escrever poesia: minha relação com a selva foi mais densa que a de Casimiro de Abreu e meus versos tentam ir pelo mesmo caminho. (É preciso dizer não à linguagem, é preciso ser resistente, afastar-se dos lábios precipitantes, silenciar feito um cometa, partir da linguagem em procura da linguagem, como um mineiro sideral, noite afora, retornar com diamantes assombrados.)

Antes de o mercado de São Braz virar espaço cultural, eu e meu irmão, adolescentes, lá íamos da Terra Firme nos impregnar com o cheiro de peixe e de ervas amazônicas, e voltávamos na chuva que era a mesma da selva da infância. Sou da “perifa” como Belém, suburbanicidade, e não engano que bilhar e futebol me arremetem como as mallarmeanas medulas consteladas (é preciso ser duro e verdadeiro com a linguagem, e assim limpá-la, é preciso dessacralizá-la e assim descobrir-lhe, é preciso perscrutar-lhe cada ponto, como numa acupuntura da língua, e fazer, da palavra, carne e desintegrar a carne em átomos para a Ursa Maior).

A Feira da 25 se parece com aquele futebol de manhã de domingo (Baenão ou Curuzu) e o bairro da Pedreira – a periferia afirmada – faz a memória tão vívida que um samba passa no vento; vem, então, comigo, Ruyzinho Barata de alucinações, volta, poeta, a transpor a Senador Lemos, retardos canais, eita Belém de brenhas, palafitas de rios que viraram lamaçais. É preciso desentranhar a linguagem da linguagem – como extrair-se uma mulher de outra mulher -, é preciso habitar os meandros sem passado ou futuro, desmerecer o pensamento que precede o trovão atroado, é preciso coçar a linguagem com ungüentos, despertar-lhe todos os risos-de-canto-de-boca, amanhecer de sílabas olorosas como leoas.

É preciso conhecer a folha pelo talhe, e o talhe pela boca, talos nos dentes do menino lavrador. É preciso lavrar, desentranhar as raízes para ver de perto a linguagem, é preciso plantar-se na linguagem para merecer a seiva e o mel, minha Belém que nasce em si mesma, Vênus emergindo da concha dessas mãos.

É preciso tomar a Pedro Álvares Cabral, chegar ao rio Guamá da linguagem e fazê-la jorrar sobre si mesma, é preciso agarrar-se às margens da linguagem e trazê-la para as margens de si mesmo.

O sol lança a linha do dia.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

POEMA INÉDITO


Poema de ocasião

Canta, ó musa – ó vida -, a vida que começa
de Lana, eterna no tempo que não cessa.

Primeiro, prova, musa, apura os ouvidos,
verte a imaginação pelos sentidos;

o fluxo do momento, constante,
perpetua a beleza a cada instante

e a passo vai o pensamento
de firmamento a firmamento

- terra incrustada de estrelas -

peregrino relento do talento,
alma incidindo em cristal
a água flamejada pelos dias;

canta o que serás, eu, o que serias.

Canta, ó vida, a vida de Lana que não cessa,
infinita agora que começa;

(Venha lépida a eternidade
do tempo cronometrado das cidades.)

lúdicas, lúcidas emanências
sorvidas de acasos

e o amor aceso como um palco;

toda cor
o sol produz com a mesma dor,

sorve o barro a porcelana?;

o cinema que mana imana
a vida sobre a existência.

Decanta o presente; eu, a permanência.

LIVRO "BOM DIA - 61 NÃO-CRÔNICAS"


38 - Às mães

O domingo das mães se foi, mas o dia em questão é a quinta-feira passada, quando se sepultaram Uraquitan e Ubiraci Novelino. Minutos depois do enterro, Dona Vilma Novelino, 55 anos, resumiu duas semanas de horror numa frase profética: “Nossos filhos já não são para nós”.

Naquele momento, Dona Vilma era intocável em sua condição de mãe, inviolável em sua pura qualidade de amor, doação, piedade. Uraquitan e Ubiraci foram atraídos para uma armadilha por um amigo de longa data (o empresário Chico Ferreira) e morreram estrangulados num assalto forjado; os corpos (atirados à baía do Guajará acorrentados a baldes de concreto) só foram resgatados após dez dias de penosas buscas. “Nossos filhos já não são para nós”, resumiu dona Vilma, como se dissesse: “Agora eles são para Deus, para os anjos”; e como se dissesse, sobretudo: “Damos à luz, cuidamos, zelamos, e simplesmente vem alguém e nos toma os filhos amados”.

Naquele momento, inviolável, Dona Vilma Novelino estava longe dos negócios dos filhos (da rede de 17 postos de combustíveis formada em doze anos, das acusações de que foram assassinados por emprestar, a Chico Ferreira, R$ 4 milhões a juros exorbitantes...), e estava longe da palavra “vingança”, sempre usada nas perguntas dos jornalistas ao patriarca da família, Ubiratan Novelino, e ao filho deputado estadual, Alessandro Novelino (ninguém perguntou à família do médico Cavaleiro de Macedo, assassinado durante um assalto, se pensava em “vingança”): Dona Vilma era, naquela quinta-feira, apenas este ser supremo, mãe, que acabara de enterrar dois filhos.

Num tempo de iniqüidades, num mundo onde não confiamos nem nos remédios, nessa época egoísta e egocêntrica, as mães são raras heroínas: o que fazem todo dia pelos filhos merece uma Legião da Honra por semana. A ligação com os filhos é eterna – uma amiga, por exemplo, Nadir, ia de carro do Rio de Janeiro para São Paulo quando sentiu um aperto no peito: “Preciso telefonar para casa!”. Ainda não havia celular, e tiveram que chegar ao primeiro posto de combustíveis: ao ligar, Nadir descobriu que o filho sofrera um acidente grave, na volta de Mosqueiro para Belém.

Os homens têm suas questões, sua maneira de botar para fora (quase sempre de uma vez só) tudo o que sufoca por dentro. O deputado Alessandro Novelino envolveu-se 100% com o resgate dos corpos; mobilizou um batalhão de amigos e autoridades nas buscas e nas investigações sobre os criminosos; foi visto em todos os lugares, em todos os horários, incansável; e, naquela quinta-feira, pegou ele mesmo a pá e acabou de enterrar os irmãos. Mereceu até uma carta pública do pai – após terem encontrado o segundo corpo – agradecendo-o pela perseverança, por não desistir de dar aos “meninos” um enterro “digno”. Nesses tempos carentes, até agora o deputado capitalizou aura de herói.


Dona Vilma, mãe, inviolável a estas fraquezas, consumava em si todos os pecados cometidos pelos filhos mortos: nenhuma mãe merece enterrar o que ela própria entregou à luz; e qual filho pecou tanto que receba tamanha punição: ser enterrado por quem o gerou? Dona Vilma, Ubiraci e Uraquitan estavam, assim, reunidos num círculo inalcançável pelas faltas dessa vida: mãe e filhos, simplesmente, redimidos de forma impiedosa por um tempo em que o nosso amor já não é para nós.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

POEMA DO LIVRO "DO REAL IMAGINADO"


Canção em volta

A chuva vésper é a dona da bola.
Retorno sem começo, albor sem fim,
lucidez alagada num delfim.

Ao chão da infância, a papila dos dedos
apanhava as palavras esfregando-as:
arredondadas de água ou erodidas,
verbos ou adjetivos.
NNN nnnnNNNNNNNNNNN Somos só
uma flecha de baladeira, uma
harpa de seixo aos pés de Orfeu. O sopro
do sabiá.
BBBBBbbbBBB Te trago à infância, onde
a sensação é o espaço; e o verso
trespassa o tempo como os sonhos

(é contra o tempo toda perfeição);

e logro, traquinas, o eterno: rio
atuado pela imaginação.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

LIVRO "BOM DIA - 61 NÃO-CRÔNICAS"


37 - A inveja e o perdão

Carnaval é época de perdão, mesmo por que não há perdão maior que a alegria. Quando o carro de Momo passar, ponha nele todos os dramas, reais e imaginários, a falta de grana, de tempo, o estresse, o tédio, depois, sentado no paralelepípedo da calçada, sobrevoe como pluma este Brasil girado a pandeiro. Bem, como já passa o carro de Momo - e o leitor terá que me perdoar -, vou aqui despejar o coração.


Costumo dizer que não sou do interior, sou do mato, e meu universo infantil era mais interno que externo, mais o literário que o “real”. Este contato pródigo com o ideal (inclusive como coroinha na Igreja) conferiu-me temerária pureza d’alma, e o fato é que só aos 35 anos flagrei-me com inveja. A sensação durou uns dez minutos, e foi como uma descoberta: então isto é que é inveja! Depois disso, lembrei, claro, que amargara antes o duro sentimento, só não conferira a devida nomenclatura.


Também durante aqueles dez minutos descobri que sentimos inveja, sobretudo, de quem amamos. Quando não amamos, o sentimento vira justiça social, ou genuíno desdém, ou cômoda ignorância. Quando nos é uma pessoa cara, o coração, tão humano, cai como um patinho na lagoa do comum, e impõe ao amor a mais constrangedora das prendas.

O episódio de inveja me fez percebê-la, no cotidiano, de forma instantânea; e, quando detecto-a em mim, gracejo comigo e logo fico feliz com as gargalhadas do objeto de secação. Também fiquei mais atento ao Outro: às situações em que, por alguma fatalidade, eu pudesse causar inveja. Sendo inevitável a todos e a todos nociva, a inveja gera – ou deveria – uma relação de mão dupla com o perdão, que por sua vez é recíproco em si: liberta tanto o agressor quanto o agredido.

Lembro que João Paulo II, ao abençoar o homem que lhe tentara assassinar, comentou a necessidade de se perdoar o semelhante, num mundo falto. Como nos falta grandeza de papa, aproveitemos o carnaval para lavar a alma, para atirar a Momo o rancor, a vaidade, os sentimentos mesquinhos, para dizer eu te amo e tantas frases sem setido.

O carnaval de fato tudo pode, se é fantasia, se é um faz-de-conta inflado pelo extravasar de todos, perfeito como coração de mãe. Eu hoje também quero pedir perdão ao carnaval, e quero perdoá-lo, e que me perdoe o melhor inimigo, a quem perdôo, e que me perdoem as árvores, as mulheres e as crianças, e me perdoem os pobres e os ricos, os doentes e os super-atletas, e que eu possa perdoar as cachoeiras sujas que me banham e limpam.

Aproveitemos que Gregório de Matos era da Bahia - terra de ferveção -, para citar-lhe um soneto famoso, em que, quanto mais peca, mais concede a Deus a oportunidade do perdão. E aproveitemos que Chico Buarque é carioca, carnavalesco por excelência, para amarrar de novo nosso paralelismo: na marcha “A noite dos mascarados”, os foliões se aproximam sem ter como ver-se as faces, “Eu sou Colombina”, “Eu sou Pierrô”; a folia chega ao auge, e os pretendentes já não precisam saber quem são (“Não me diga mais quem é você”), pois, carnavalizadas as diferenças, ou somos todos iguais ou no mínimo harmônicos, “Seja você quem for/Seja o que Deus quiser”.

E também, como não?, aproveito para perdoar a mim mesmo, para atirar ao carro de Momo as minhas faltas insubstituíveis, meu descompromisso com a saúde, meus adiamentos, minhas ânsias, minha inveja e minha vaidade, minha arrogância e falsa humildade, meu desesperador desgarramento do real, vou entupir com tudo isto o carro dos milagres, digo, de Momo, e que Baco siga incansável em sua predileção por Belém, e que a folia nos digira como um fígado social, um fígado que opera na praça, a céu aberto, e que, sobrevoado daqui - do paralelepípedo da calçada - parece o Afoxé do Guarda-Chuva Achado.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

LIVRO "BOM DIA - 61 NÃO-CRÔNICAS"


36 - Baixios

Dezenas de milhares de anos se passaram, mas resultou bem mixuruca este nosso futuro: não surpreenderia, digamos, nem aqueles bárbaros do Século XXI. Talvez a maior novidade para eles seria a clonagem, hoje, de qualquer animal de qualquer época. Basta ter uma partícula do bicho, mesmo algo que antes era considerado morto, tipo um osso seco. Bem, o fato é que “ressuscitamos” na maior grandes carcaças do passado e até mico-leão dourado voltou a existir.

A porteira das clonagens foi aberta quando as igrejas perderam a Centésima Quinta Grande Guerra, a dos Clones e Duplos. Os primeiros a voltar do túmulo foram personalidades longínquas como faraós e generais. Então viu-se que as reproduções em laboratório têm sempre outras personalidades e vocações, e quem era guerreiro na antiguidade ressurge travesti ou skatista. Mesmo assim, Pelé já foi clonado setenta mil vezes. O maior agravante é que, comparados ao raciocínio do homem atual (o Homos-Universus), os homens da velha Era Pós-Moderna são considerados idiotas. E acabam virando cruéis atrações, reunidas numa associação de protesto contra a reprodução de primitivos. Também foram gerados em laboratório todos os nossos elos (antes perdidos) e um museu odiado exibe ancestrais como os paleolíticos. (Alguns foram alfabetizados, e executam serviços mecânicos.)

Não é à toa que a Ciência Pura debocha do resto da civilização.

Uma pesquisa comparou dez mil espécies animais, e já passam de mil as que desenvolveram algum tipo de inteligência: claro. Os primatas foram os que mais se transformaram ao longo do tempo: claro. O choque veio dos impulsos básicos – ou corporais, ou instintivos, ou simplesmente sexuais: o macho da espécie humana foi o que menos mudou em relação aos antepassados.

Cem mil anos depois de Cristo.

E as atitudes eróticas do Homos-Universus continuam iguais às do Neandertal.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

LIVRO "BOM DIA - 61 NÃO-CRÔNICAS"


35 - Toda mulher é sonsa

Depois da provocação do título, sei que as caríssimas estão checando a crônica, para ver qual é: o que coloca o autor como um declarado aprendiz da sonsice, que é a velha esperteza com inteligência, também conhecida como oblíqua e dissimulada. A provocação maior, no entanto, é falar certas verdades não às mulheres, em tom comedido, e sim entre machos, como no seguinte papo de vestiário de futebol:

- Sabemos que milhões de anos de repressão deixaram as mulheres mais minuciosas – capricha Sibelino. – E se o cara bobar, elas manipulam até ao ponto da omelete.

- Certas coisas não deveriam ser pronunciadas nem em estádio de futebol – completa Mauro, com um meio-sorriso - mas vou repetir aqui uma máxima de meu pai. Ele diz que, se o indivíduo deixar, as mulheres montam no lombo, enfiam os calcanhares nas costelas, seguram nos dois chifres e manobram: pra cá, pra lá...

Os quatro amigos riem, à vontade.

- É só observar quando elas chegam a algum bar, pra caçar – referenda Gaiato. – Porra, quando um homem chega, passa logo o pente fino em todas as gatas, e quando uma passa, olhamos direto pra bunda; elas, não: chegam, cumprimentam as amigas, sentam-se, pedem um copo de qualquer coisa com água tônica e só então (por cinco segundos!) passam a vista e sacam tudo.

Novos risos, e Maraca também se aproveita:

- E quando começam a falar das que estão ausentes?

Risos de novo, acompanhados de gestos bruscos.

Maraca prossegue:

- Pode ser a melhor amiga, a eterna, a companheira, mas sempre sobra um questionamentozinho, uma alfinetada.

- É que as mulheres lidam melhor que nós com a inveja – dardeja Sibelino. – Elas admitem a inveja para si, e falam sobre isso sem problemas, e principalmente praticam com fervor!

Os risos estão ainda mais altos, os gestos, mais largos.

- Mas tem uma coisa aí – Gaiato pondera. – As mulheres não encaram melhor só a inveja. Elas realmente dividem as dores, todas as dores, cara, até a dor-de-corno, que os homens não suportam admitir. Então, no cotidiano (essas besteirinhas que a gente faz), as mulheres vão lá e aproveitam logo pra se vingar, digo, extravasar, afinal é entre amigas, e isso deve fazer um bem enorme ao espírito.

- Mulher chorando é a coisa que mais me parte o coração – corta Mauro, algo sentimental. – Sem brincadeira, dá vontade de arrancar todos os cabelos quando vejo uma mulher chorando, reclamando de algum ponto obscuro da existência.

- Da existência, não, elas reclamam é de companheirismo! – espeta Sibelino.

- É por isso que mulher só sai em bando! – apunhala Maraca.

- É a necessidade de falar! – arremata Gaiato.

- Se uma mulher não falar sobre seu dia, ele não aconteceu – Sibelino viperino. – Elas precisam crismar os fatos comentando-os depois.

- Em detalhes, e com notas de rodapé! – Gaiato gargalha.

- O que me espanta é que, apesar de toda essa experiência emocional, elas são sentimentais, sonhadoras.

- Caramba, acreditam no amor! (Sibelino).

- Esperam o príncipe encantado! (Mauro).

- E se apaixonam como se fosse durar pra sempre! (Gaiato).

- Espera aí, não tem nada mais maravilhoso do que mulher apaixonada: o carinho, o sexo... – recorda-se Mauro.

Até Sibelino concorda:

- A paixão é a única coisa que vale a pena na vida!

- Vinhozinho, friozinho, fome pra caramba... – Mauro ainda sonha.

- O que eu não entendo é como, sendo tão pragmáticas, elas se apaixonam por sujeitos como nós! – Gaiato filosofa.

- Vocês não se envergonham de falar tão mal das mulheres? – Mauro enlouquece.

- Elas merecem! – Sibelino sibila.

- Nós também! – Mauro deve estar com dor de pâncreas.

- Mas nós somos homens! – justifica Sibelino.

- Sabe o que me tranqüiliza? – Mauro agora é um romancista cínico arrependido.

- O quê? – dois manifestam-se.

- Quando estão sozinhas, elas falam da gente com muuuito mais perspicácia!