sexta-feira, 19 de julho de 2013

Tempo de brinquedo





Há um passado que é memória,
sob o efeito dessa substância, a imaginação.
E um passado causa, imutável:
a roda gira – ampolas se acendem.
A História é um monumento de versões.

O futuro é vislumbre – resultado.
Daqui,
o futuro chora e ri apenas como uma boneca.
É preciso esse fio a obrar o tempo –
caminho, amor –, cavilações eletrossensíveis.

No relógio eletrônico, o presente
dura um milésimo, antes de virar passado.
E em mim? Quantos segundos,
quantos minutos formam o agora?
Certo, a relatividade. O presente
depende da percepção.
É contínuo – mas, em mim,
se define por cenas, como no teatro.
Cena 1 (presente 1): chegas, dizes duas frases,
me beijas, partes;
Cena 2: presente de quantos minutos sôfregos
a lembrar do passado (da Cena 1)?
O presente é uma impressão, uma sensação.

Visionarizar o futuro – digamos,
uma invenção que estará no mercado
em vinte anos. Entre o projeto e o produto,
qual o nome do tempo? Processo.
Há o tempo processo, uma raia de tempo,
tempo-finalidade: imiscuído de presente emoção.

O tempo do sonho - transcorre em que espaço?
Medi-lo em que ampulheta, peneirá-lo?
Se, mesmo nos sonhos contínuos,
em que “controlamos” as imagens,
o sol não vaporizará os odores da areia?

E há esse tempo da arte, à margem:
a peça começa pelo final; narra, então,
a heroína desde a infância;
e, na adolescência, um robô do futuro
visita-a, para impedir que um vilão
destrua a Terra em cem anos.
(Há um cyber-tempo - sem passado, presente,
futuro – percebido, mas sem emoção?)

O tempo da narrativa: não, não é
relativo. Ainda que a peça,
amanhã, não seja a mesma de hoje:
a heroína errará uma fala.