segunda-feira, 9 de novembro de 2009

LIVRO "BOM DIA - 61 NÃO-CRÔNICAS"


42 - Carros, camelôs, futebol

O automobilismo é uma paixão disseminada por São Paulo, com cartódromos e circuitos de cross (barro) em vários municípios. Interlagos é talvez o patrimônio que mais orgulha a capital e Ayrton Senna é um nome inapagável nos esportes brasileiros.

Contrastando com a velocidade, Sampa é a metrópole mais engarrafada do mundo. Haja viaduto e túnel e viaduto, mas como conter o problema se, para o paulistano, ter carro não é só status social (como em todo lugar), é antes paixão, história de vida, relação profunda com o meio?

É possível que o automóvel (e a velocidade adrenalítica) seja, ao lado do computador, a invenção que mais interferiu, de forma física, no comportamento humano. A ancestral relação do homem sobre o cavalo (o espírito aventureiro) foi transferida, no Século XX, para os carros (“motores de duzentos cavalos”). O relação homem/máquina é uma das mais modernas da espécie (a máquina não tem vida, como a árvore ou o bicho: foi criada pelo homem, pela tecnologia: não é um diálogo com a “natureza”, “viva”, e sim com elementos inanimados, como minérios).

Neste sentido (da relação física com a modernidade) São Paulo é a cidade mais “urbana” do Brasil.

(Só para não esquecer, o apelido do computador é “Máquina”).

“Locomotiva do Brasil”, influência de Itália (Ferrari, Fiat), Matarazzo, bairro só de japoneses e descendentes (Toyota, Honda): Belém está a três mil quilômetros destas circunstâncias paulistanas, mas como ama carros! Em qualquer transversal mais movimentada, muitíssimos modelos novos e luxuosos.

Nessas perspectivas, a esquina mais “urbana” de Belém é a da Júlio César com a Pedro Álvares Cabral. Ali, além da proximidade com o aeroporto (o avião é uma tremenda máquina), fica um dos raros semáforos de quatro tempos da cidade. Em redor, Aeroclube, Corpo de Bombeiros, uma reserva ambiental. Como em São Paulo, a esquina de Belém movimenta uma concentração de camelôs, que aproveitam os quatro tempos do semáforo para melhor seduzir o freguês. E ainda (aqui como em Sampa), a Copa da Alemanha produz essa foto social: as camisas que os camelôs vendem aos “doutores” são as mesmas que usam, driblando os carros.

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