À musa
Isso
a poesia pode fazer:
prender
o tempo, para passares.
Reter
o tempo, vedá-lo numa fresta
de
linguagem -
para
fechares os olhos
até a
música,
para
levares a beleza em clara
ao
ato da cor.
A raiz do adeus
Dedicação repleta
só de nós dois.
As raízes afundadas
até o sol.
Então a árvore que fomos
já não suportava tanta luz.
E a lua deixou a noite.
E a primeira folha
amareleceu de chuva.
Asa sangrada
O que mais me atrai - atormentador:
revoasas em desejo, ninfomanias.
A menina livre foi manchada
em seu voo mais violento
- e portanto suave,
mais alto
- e portanto junto de si mesma,
mais estrondoso - e portanto em
silêncio.
A covardia do mundo é a fragilidade.
A fragilidade é a selvageria.
Estarás sempre acima e além dos
deuses
que matam jovens os filhos
prediletos.
A palavra com que te justifiquei (te
justicei)
ainda poreja sangue sob a lua.
Teu voo quebrado geme em minhas mãos.
A vampira e o poeta
“Me
lês muito, me lês demais”,
ela
elogiava-alertava.
E também,
sincera:
“Desiste,
cara:
não posso
dizer te amo, ou te quero,
nem
que estou apaixonada;
pois
não sei dar garantias,
estabilidade:
não sou oferecer
segurança.”
“Não
sabes é ser serenidade -
não
tens essa palavra em ti”.
“Tu
lês muito!”.
“Minha namorada
não
sabe namorar,
só
transar”,
entendi,
deslumbrado,
assustado;
“E por
onde andará?”.
Certa
vez, porém,
durante
a transa,
ela
desceu, desceu a leves asas,
aninhou-se
sobre mim
transfigurada
e, serena,
serena,
entregou
os olhos
para
meu silêncio:
“Tu
sabes ler?”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário