terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Em Belém



Ando pela cidade que foi nossa,
que somos nós
(agora que estás tão distante quanto possível,
ao alcance apenas dos olhos, das mãos)
em busca da palavra que geramos
dentro da palavra adeus,
nossa palavra-refúgio,
palavra-verbo, palavra-sopro –
mas só tua imagem
num sonho
se revela e esvai
e a gravidade baixa a memória
sobre mim.

Não, a poesia não nos valerá –
ainda que agora,
milhares de anos depois,
outra vez o rio da fala
mova o moinho
antes da nascente
e as primevas palavras,
por magia, insolvam o humano
nos precipícios do sal –
cessaram as fontes:
toco só a beleza
nessa rua de prédios e carros
onde um casarão esquecido
se cobre de umidade e hera
e entre tijolos e musgo
desloco um verso
como uma placa de cascalho
libera o fogo
- a beleza, apenas,
 envolvendo o burburinho
da solidão.

2 comentários:

Renato Torres disse...

Edson,

tua poesia pervagante aponta-nos o antes da cidade, reconfirmado a cada casarão abandonado, a cada paralelepípedo cheio de fantasmas de bondes e passos ensimesmados. segue viva tua mestria de versos avarandados.

abraços,

r

edson coelho disse...

renato, sua sensibilidade lê, cria e recria - o melhor leitor, artista.
e vamo que vamo!