quarta-feira, 17 de junho de 2009
DOIS POEMAS DO LIVRO "DO REAL IMAGINADO"
Ao lado do cisne
“- A água fenece, brota:
o tempo de uma borboleta.
Tua forma
é como o vôo do urubu
estarão contigo
estes fogos de estrelas.
Eu, por mais de um rio
lastimei a vida, lamentei o amor;
cantas antes de morrer.”
Dando voltas com um Eu do Outro
Há mais de um predador todos os dias,
talvez um rex, talvez uma serpente.
É o alimento, bela, da libélula,
da tilápia, da aranha, dos suspiros.
Há vírus - Tróia das hemácias - que
se fazem cópias ardilosas para
surpreender nossa defesa. Toda
célula mata e morre, e a fuga
angula um tango com a perseguição.
(São como uma elegia em corrupio
o ataque e a defesa entre as espécies.
Reparo os truques do camaleão,
que ganha a vida ao viver de ilusão;
o limão laborou o azedo, a abelha
tem veneno na bundinha de mel;
o gambá escafedeu-se borrifante
da cascavel que eriça guizos áridos;
toda roseira exibe espinho, toda
felina arranha mesmo sem querer.)
Conformes aos vírus que se copiam,
ludibriamos nosso in-consciente:
por trás do Eu há outros Eus, gerados
ao se conter ou liberar instintos.
De acordo com a situação, um Eu
assume, muitas vezes em surdina.
Tenhamos por exemplo esse amante
que surge, esgueirado aos lampiões:
qual, agora, o seu Eu, se vemos dois,
um que é casado, resistiu bastante
e teme imaginoso pelas conseqüências,
e outro que, como um Iago de si mesmo,
plantou-se frases, sugestões, e foi-se
convencendo sem suspeitar, até
sucumbir-se a uma versão final,
complicadíssima, da moça à espera:
qual é verdade, o que engana a si
resistindo à paixão, ou o que se engana
sugestionando-se, a ponto de, após
o idílio, se jurar viva inocência?
Quanto a nós, diva, quem sabe, entre tantos
Eus marcados pela fração da rua,
não teríamos também um para esta lua?
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Um comentário:
É tudo forte e delicado.como água e fogo! acho que jamais vou entender toda a profundidade da sua poesia! um dia quem sabe o senhor me explica?explica...
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