terça-feira, 31 de agosto de 2010

LIVRO "DO REAL IMAGINADO"


Estado de poema

Sair atrás de uma estrofe
e não mais voltar.
Cruzar mil palavras;
compactar o cérebro,
agrupar-se, prosseguir-se;
deparar o estado
de poema.

É como um lago fundamental
de idéias em silêncio
onde a voz gera o que nomeia.

Minha estrofe forma-se
do próprio substrato:
atende não ao esforço,
mas ao chamado.


Do imaginário

Na canoa veleira,
Rildo queixa-se:
Dezesseis anos atrás,
uma arraia atravessou-lhe
a perna;
até hoje sente fisgadas –
quando é lua cheia.
Inventa?
Pesco a noite marajoara
que o orienta.


O Eu de João

João Cabral
não expressou
a personalidade:
concretizou-a.
Não se forjou
um Eu: forjou-o.
Blocos e lâminas,
rombudo de tão solar.

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