quarta-feira, 9 de junho de 2010

LIVRO "DO REAL IMAGINADO"



Na varanda dos tijolos verdes

Fugir ao encontro
do tempo: Paraty.
Amurados com o antigo,
os telhados transformam
as ruas em pátios;
acobertados pelo casario,
amor e livros.
A réstia de um milênio
se esvai sobre nós -
a concretude de raiz,
as árvores súbitas


climax lux


cerração de sílabas na lua,
abalada por tua morenice.
Para ti esta fresta-
fronde paralelepípeda
esgalhada ao sol da memória.


Para o Amor

Dou graças ao sal luxuriante
de tuas bodas de perda,
àqueles dias
no jardim das delícias,
quando bestiais contrários
se completaram sem destroços.

Amor em asas,
migração de duas aves sempre perdidas,
também agradeço este adeus incessante
pela ilusão de um espaço
sem aniquilamento.


Dando voltas com um Eu do Outro

Há mais de um predador todos os dias,
talvez um rex, talvez uma serpente.
É o alimento, bela, da libélula,
da tilápia, da aranha, dos suspiros.
Há vírus - Tróia das hemácias - que
se fazem cópias ardilosas para
surpreender nossa defesa.
Toda
célula mata e morre, e a fuga
angula um tango com a perseguição.

(São como uma elegia em corrupio
o ataque e a defesa entre as espécies.
Reparo os truques do camaleão,
que ganha a vida ao viver de ilusão;
o limão laborou o azedo, a abelha
tem veneno na bundinha de mel;
o gambá escafedeu-se borrifante
da cascavel que eriça guizos áridos;
toda roseira exibe espinho, toda
felina arranha mesmo sem querer.)

Conformes aos vírus que se copiam,
ludibriamos nosso in-consciente:
por trás do Eu há outros Eus, gerados
ao se conter ou liberar instintos.
De acordo com a situação, um Eu
assume, muitas vezes em surdina.
Tenhamos por exemplo esse amante
que surge, esgueirado aos lampiões:
qual, agora, o seu Eu, se vemos dois,
um que é casado, resistiu bastante
e teme imaginoso pelas conseqüências,
e outro que, como um Iago de si mesmo,
plantou-se frases, sugestões, e foi-se
convencendo sem suspeitar, até
sucumbir-se a uma versão final,
complicadíssima, da moça à espera:
qual é verdade, o que engana a si
resistindo à paixão, ou o que se engana
sugestionando-se, a ponto de, após
o idílio, se jurar viva inocência?

Quanto a nós, diva, quem sabe, entre tantos
Eus marcados pela fração da rua,
não teríamos também um para esta lua?

2 comentários:

Anônimo disse...

COMO DIRIA PESSOA, O AMOR DE TÃO HUMANO CHEGA A SER RIDÍCULO, MAS NÃO NO SEU 'DO REAL IMAGINADO',NAS POESIAS DE AMOR , AS PALAVRAS SÃO RARAS, O AVESSO DO CSOMUM.
O ESPERADO RIDÍCULO AMOROSO; BANAL, SUBSTANTIVO,INEXISTE.
HÁ UM SUJEITO ALQUÍMICO, A PRESTIDIGITAR VERBOS...AMANDO ENTRE GALÁXIAS,FONTES, PROVOANDO O MEL QUENTE DAS ABELHAS.MUITO ELEGANTE... DE UM POETA QUE INTIMAMENTE DEVE VALORIZAR MUITO AS PALAVRAS QUE ESCOLHE A CANTAR SEU AMOR.TENHO ORGULHO DO COLEGA DE FACUL, QUE ESCREVE ASSIM BONITOOOOO...PARABÉNS PELA RARA DELICADEZA QUE SE PODE CONHECER NOS TEXTOS LÍRICOS QUE VOCẼ FAZ.

Anônimo disse...

EI NÃO ASSINEI, MAS FUI EU

INES