segunda-feira, 21 de junho de 2010

LIVRO "DO REAL IMAGINADO"


Alumbramento

O universo se aninha
à minha filha
que ainda não nasceu.
Dar-lhe um nome
é gerar nos feixes amnióticos
o espaço paralelo
dos símbolos.
Palavra-genética
como o liquor da biosfera
e o colostro da Via Láctea,
que não eu, mas a mãe
(condão de verbo
sobre todas as coisas)
deve amar
até pronunciar.






Minha filha nascerá em dois meses.
Escuta tudo.
O mundo a dez centímetros
e desconhecido.
Sei que ela já viu
alguma imagem
aqui de fora:
cena de sonho
gerada como um jambeiro
na mente ansiosa.
A vida serão as imagens
das vozes - essas vozes - mais perto,
nítidas, tal um fogo.
Minha filha sabe sem pensar
- aliás, ainda não tem nome,
estado de palavra:
pensamento
é pra quando olhar o mundo
de fora pra dentro.


Lamento da mãe do campo atrás

Minha mãe, casa de clara,
vira chuva como as frutas
e voltará se eu estiver aqui.
Esperarei contigo, filho de minha lua,
longe de teu pai, sol do meu parto.
Aqui, chegarei.
A água fez o melhor por mim,
tenho medo de não retornar;
medo de ficar só,
longe do rio de meu filho;
aqui, chegarei.
Rebento do meu solstício,
fala das borboletas
que sofri para teu vale;
fala para não esqueceres.
O universo é uma gota dos olhos
e velarei toda a noite:
dorme, o rio está parado.
Se for preciso, cantarei.
E onde nunca ninguém saberá,
morrerei.

Um comentário:

Anônimo disse...

esse foi um dos primeiros poemas que li ... achei, na época, muito interessante, passados anos, a impressão se matém...

ines