quinta-feira, 4 de abril de 2013

Cinco poemas


paixões

o poema trisca o bico do teu peito
e tudo se envolve
na eletricidade que nos revolve


O primeiro poema

Árvore caída, tronco podre, pubo:
florido de cogumelos amarelos.
Ventos desencontrados
lançam, ao tronco, uma semente
da mesma espécie de árvore.
Folhas verdes.

Silvo estranho –
plantas e bichos atônitos -
vento ordenador:
em algum lugar do mundo,
pela primeira vez, alguém falou.



O quintal

Quando o tempo
me separou de mim,
também ele se partiu
como uma hóstia,
metade se multiplicando
e esvaindo,
me ascendendo e fulminando,
a roda da plenitude
de
caída
na chuva fulgurada.

A outra metade está
nesse quintal.

A muda da árvore que somos,
infância,
a palavra muda, intacta:
o tempo, pétala perene
corolada na memória;
eu, canto-contínuo
no instante-vazão-em-mim,
pólen pleno
da própria estória.



acaso

anterior ao cacto, que vive apenas
do sol (flor do torrão do coração);
por trás desse instante:
milhões de raios fazem
o céu pegar no tranco;
antes dos ventos chicoteados por Zeus,
o motivo motivo:
o acaso,
a causa do átomo,
não o fortuito -
a causa primeira:
a idéia da origem,
indivisível,
a onisciência da matéria,
virtude do destino -
o dado das circunstâncias eternas -
o primeiro sopro, a pluma da fábula -
o começo do infinito
para todos os nomes
e todos os rumos,
não o fortuito:
o agente de deus,
acaso,
no princípio do verbo.


O quinto elemento

Estradinha ascendendo a serra –
raio de terra.
O luar polvilha os pinheiros,
retarda o rio desfiladeiro.
A menina hippie é tão linda
que amanhece.
No meio da pedra gigantesca,
umidade: a água quis pegar
um pouco de sol.
Mas de onde veio?
A rocha mina.
Mauá, instante paralelo.
(O cheiro do vegetariano
deitado na floresta
atraía formigas e borboletas.)
Palavra deflagrada: eu em fogo.
Qual o cheiro do poema,
o número atômico da poesia?
Atraio voos sem pássaros,
seixos afloram sem vau,
cores se exalam das flores.
Palavra, quinto elemento.
O coração bate tão íntimo
que tudo inspira.
Mina de silêncio.


3 comentários:

Inês Pereira (Bia) disse...

É Edson, a causa do átomo deve ter sido mesmo a tua poesia!!! Lindo, tudo isso por aqui!!! Lindo demais!!! Discordo dos criacionistas, tudo começou com a tua poesia!! beijo...
ines

edson coelho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
edson coelho disse...

eita, que eu queria mesmo era estar com a essa bola toda. valeu tudo.