A morte e as
mortes
Minha morte não terá o meu rosto.
A morte vem com número de série, generalista.
Mais do que esquecimento, é indiferença.
A morte é cega como uma pá.
A morte é apenas ela mesma,
é sempre a mesma.
Mas há as minhas mortes,
as mortes que sou eu.
A palavra encontrou o brinquedo perdido
e cantei.
Quando matei o amor, quando o amor
me enterrou no peito cavo,
a canção soou como um raio de luz.
Quando a utopia se humilhou
no panteão da oferta e da procura,
a poesia bradou tão fundo
que os jovens voltaram a sonhar.
Quando o tempo sistemático
gretou contra mim sua corrente,
o canto estilhaçou a similitude dos cristais
e a taça da infância se orvalhou.
Esses silêncios, tão diferentes entre si,
é minha a letra nas partituras.
No afogamento por vinagre,
modulo a medula.
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