
Caros, abaixo poema do belo livro "Bissexto", que Pedro Galvão lançou pela Arte Paubrasil. Reproduzo aqui como uma recomendação ao livro, que pode ser adquirido via internet.
Galope a galope
Era uma égua alazã
montada em seu cavaleiro
em pêlo, resfolegã.
A trote, a trote, primeiro
num vai-e-vem comedido
em régua de redondilha,
entre um alegre nitrido
e um arfar subindo a trilha
da paixão, paixão em bridas,
nas léguas da madrugada
a trote, a trote vencidas.
E foram léguas sem fim.
Cavalgando e cavalgada
contre-plongée contra mim
eu via o céu vendo-a assim:
as crinas de labareda,
com seus músculos de seda
e a pelagem de cetim.
Centaura de olhos de fogo,
cassa-me o fôlego e a rima
me descompassa em seu jogo,
passa a passo um pé acima.
E o trote redondilhado
logo-logo se incendeia
nos oito de um trote rasgado.
Nos oito do trote rasgado,
não, não desliza, corcoveia,
golpeia o ar, salta um valado,
galga meu peito, em mim se ateia,
morde o galope em minha veia,
morde o oito infinito de amar,
me engole, açoita e desenfreia
nos dez de galope na beira do mar.
Nos dez de galope pela cama afora
em vôo que escarva esses pastos do dentro,
o dentro do dentro, ou melhor, o epicentro
do dentro a que chamamos alma e incorpora
corpo, corpo, cerne e carne, que elabora
a tão longa arte do amor a galopar.
E ela arfa e arf e urf e nesse arfar
derrama hidromel pelas colchas do cio
nos dez de galope nas pedras do rio,
nos dez de galope da beira do mar.
Ao depois desgalopou,
ao depois desgalopamos.
E apenas humanos ou
terrenos, ali ficamos.
Eqüestres. Equiparados.
Debruçada em mim, nos mins
de mim, na cama, nos prados
do seu país dos Houyhnhnms,
repousava a garanhã
no lombo do seu vassalo.
Era uma alada alazã
e seu terrestre cavalo.
A penúltima estrofe deste galope trabalha o mote “nos dez de galope da beira do mar”, com o metro e o esquema de rimas usado por Patativa do Assaré no seu desafio fictício “Encontro de Patativa do Assaré com a alma de Zé Limeira, o poeta do absurdo”, publicado em Teresa - Revista de Literatura Brasileira, números 4/5, USP/Editora 34.
Era uma égua alazã
montada em seu cavaleiro
em pêlo, resfolegã.
A trote, a trote, primeiro
num vai-e-vem comedido
em régua de redondilha,
entre um alegre nitrido
e um arfar subindo a trilha
da paixão, paixão em bridas,
nas léguas da madrugada
a trote, a trote vencidas.
E foram léguas sem fim.
Cavalgando e cavalgada
contre-plongée contra mim
eu via o céu vendo-a assim:
as crinas de labareda,
com seus músculos de seda
e a pelagem de cetim.
Centaura de olhos de fogo,
cassa-me o fôlego e a rima
me descompassa em seu jogo,
passa a passo um pé acima.
E o trote redondilhado
logo-logo se incendeia
nos oito de um trote rasgado.
Nos oito do trote rasgado,
não, não desliza, corcoveia,
golpeia o ar, salta um valado,
galga meu peito, em mim se ateia,
morde o galope em minha veia,
morde o oito infinito de amar,
me engole, açoita e desenfreia
nos dez de galope na beira do mar.
Nos dez de galope pela cama afora
em vôo que escarva esses pastos do dentro,
o dentro do dentro, ou melhor, o epicentro
do dentro a que chamamos alma e incorpora
corpo, corpo, cerne e carne, que elabora
a tão longa arte do amor a galopar.
E ela arfa e arf e urf e nesse arfar
derrama hidromel pelas colchas do cio
nos dez de galope nas pedras do rio,
nos dez de galope da beira do mar.
Ao depois desgalopou,
ao depois desgalopamos.
E apenas humanos ou
terrenos, ali ficamos.
Eqüestres. Equiparados.
Debruçada em mim, nos mins
de mim, na cama, nos prados
do seu país dos Houyhnhnms,
repousava a garanhã
no lombo do seu vassalo.
Era uma alada alazã
e seu terrestre cavalo.
A penúltima estrofe deste galope trabalha o mote “nos dez de galope da beira do mar”, com o metro e o esquema de rimas usado por Patativa do Assaré no seu desafio fictício “Encontro de Patativa do Assaré com a alma de Zé Limeira, o poeta do absurdo”, publicado em Teresa - Revista de Literatura Brasileira, números 4/5, USP/Editora 34.
Um comentário:
Lindo...como a mais querida companhia...numa tarde fria...
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